terça-feira, abril 04, 2006

a minha aldeia…S. Paio de Carvalhal

Carvalhal, orago de São Paio, era da casa de Bragança, passando a apresentação dos seus párocos, com o título de vigários, para o D. Prior da Colegiada de Barcelos, aquando da criação da colegiada, no tempo de D. Afonso, 1.º Duque de Bragança e 8.º Conde de Barcelos.
O nome de Carvalhal, sítio onde há muitos carvalhos, vem a esta freguesia de aqui ter havido grandes devesas daquelas árvores.
Nas Inquirições de 1220 vem com a designação -« De Sancto Pelagio de Cavalal », nas Terras de Faria e nelas se diz que o rei tem aqui alguns reguengos e que ista eclesia está no couto do Hospital.
Nessa mesmas Inquirições dizem: em Portocarreiro costumava entrar o mordomo para a voz e calúnia, mas agora entra em Medaos por causa de D. Maria Soares e seus filhos e em Portocarrreiro por causa de Albergaria de Barcelos.
Nas Inquirições de 1228 diz-se que nesta freguesia havia um couto, marcado por padrões, de que se não pagava foro a el-rei e as crianças foram feitas no tempo de D. Afonso avô deste rei.
A Igreja Paroquial era primitivamente no lugar do Assento ou S. Paio, onde estava ainda nos fins do século XVII. Perto dela existia um cruzeiro, com certeza o paroquial, do qual ainda há poucos havia vestígios.
Transferida a matriz para o sítio onde está, foi aí construído um bom templo, século XVIII (que me dizem sofreu grandes reformas) e subsequentemente uma bela torre para os sinos, ao lado da sua fachada, a qual tem um relógio antigo, ignorando-se, porém, quando foi aí colocado.
Das obras que nesta Igreja e ainda na antiga matriz se fizeram nada se sabe de positivo, pois o arquivo paroquial desta freguesia é um dos mais pobres que tenho encontrado.
Em frente à Igreja estende-se um largo e extenso terreiro ao fundo do qual se ergue o Cruzeiro Paroquial, sem data mas que parece ser obra do tempo da Igreja.
Ao lado desse terreiro há varias cruzes de via-sacra tendo uma delas na base o seguinte letreiro - « JOÃO FR.co DOS SANTOS. M. F. ESTAS. – RAS P. D. P. HV. P. N. E. Ab. M. 1726 A.
Há ainda no lugar da Marnota, ao lado do caminho, um cruzeiro tosco sem inscrição alguma.
Encontram-se nesta freguesia os seguintes Nichos ou Alminhas: o de Portocarreiro, o do Cruzeiro, que tem gravado em pedra: ANNO 1852, o de Vila-Chã e o de S. Paio.
O Cemitério Paroquial tem sobre o seu portão a data de 1888 e contém vários jazigos de famílias. Entre eles sobressai um ao fundo, em frente da entrada, mandado fazer por João Gomes Franqueira, o qual pela sua grandeza mais parece uma capela onde se exerce culto.
Há várias capelas nesta freguesia.
Capela de Santa Cruz das Coutadas. Foi erigida em comemoração do aparecimento de uma cruz no solo, no sítio onde está a capela, no dia 13 de Fevereiro de 1861.
Fizeram naquele ano uma barraca de madeira em forma de capela a cobrir aquela cruz e criou-se uma comissão para recolher as esmolas e angariar donativos para a construção de uma capela de pedra, cuja construção se efectuou no ano de 1867.
Tem a seguinte inscrição: – ESTA CRUZ. FOI. APARECIDA. EM. 13. DE. 1861. FOI. ESTA. CAPELA. FEITA. Em. 1867.
Capela de Nossa Senhora da Esperança. É particular e está ao lado sul da Casa de Pereiró, junto ao caminho, a facear com o majestoso portão ameado e armoriado da mesma casa.
Dentro da capela e ao centro existe uma sepultura com escudo esquartelado; no primeiro Pereiras, no segundo Vasconcelos e assim os contrários, elmo e timbre o de dos Pereiras.
Por baixo deste escudo tem a seguinte inscrição: S.A DE BALTAZAR. DE. BRITO. VASCONCELOS. E. DE. SVA MULHER. D. ANT. – 1737.
No distrito desta freguesia, ao subir o monte para a Franqueira, ao lado da calçada que vai até ao convento, estão as cinco primeiras capelas do Calvário.
A primeira, representa o «Senhor no Horto» e foi mandada construir em 1710; a segunda, a «Prisão de Cristo»; a terceira, o «Senhor preso à Coluna»; a quarta, o «Senhor da Cana Verde» e a quinta, o «Senhor dos Passos», seguindo-se outras que já ficam na freguesia de Pereira.
Esta freguesia do Carvalhal está situada em uma planície fértil e é abundante em cereais e vinho.
Confronta do norte com a de Barcelinhos, do nascente coma a de Alvelos, do sul com a de Pereira e do poente com a de Gilmonde.
É banhada pelo ribeiro dos Amiais sobre o qual se contam nesta freguesia seis pontes a saber: a de Medros, a de Vila Chã, arrazada por uma cheia em 1902 e reconstruída em 1907, a da Marnota, a de Longras, a da Várzea e a do Portocarreiro, reformada em 1921.
É servida por uma Estrada Municipal que da freguesia de Barcelinhos, lugar de Mereces, parte da Estrada de Barcelos à Povoa de Varzim e vai pela Igreja até à encosta do monte. Parece que dentro em breve irá até ao alto, junto à capelinha de Nossa Senhora da Franqueira.
Tem as seguintes fontes públicas: a de Pontegãos, a de Pereiró, a de Marnota com a inscrição – C.M. 1900, a da Folha, a de Monte de Baixo, a de Portocarreiro, a do Pequeno e a de Medros.
A população desta freguesia no século XVI era de 38 moradores; no século XVII era de 12 vizinhos; no século XVIII era de 84 fogos; no século XIX era de 500 habitantes e pelo último censo da população é de 738 habitantes, sendo 327 varões e 411 fêmeas, sabendo ler 149 homens e 16 mulheres.
Não tem escola alguma oficial.
Tem caixa de correio.
Esta população está distribuída pelos seguintes lugares habitados: Igreja, Monte de Baixo, Bouça, Monte de Cima, Assento, Vila Chã, Medros, Portocarreiro, Felões, Pontegãos, Pereiró, Longras e Marnota.
As suas casas mais importantes são: a do Jardim, a de Chouso, a do Fidalgo, a de Pontegãos, a de Medros, a da Várzea, a do Fidalgo do Monte, a de Pereiró, a da Igreja e a da Marnota.
Não nesta freguesia a grande indústria; está esta reduzida a algumas moendas e engenhos de serrar no ribeiro dos Amiais e a uma fábrica de fazer papel grosseiro que funcionava ainda há pouco tempo.
A sua população, que é constituída principalmente por lavradores e proprietários, contém porém muitos artistas principalmente carpinteiros, alfaiates, etc.
Tem uma indústria típica que é a de rodeiros de carros de bois e de jugos.
O seu comércio está reduzido a uma única venda ou loja de mercearia.
Dos homens mais importantes que nasceram ou viveram nesta freguesia destacaremos os seguintes:
João Francisco dos Santos, a quem se refere a Crónica da Providencia da Soledade a páginas 304, edição de 1742, dizendo que ele era natural desta freguesia, do lugar de Portocarreiro, e que empregou todos os seus haveres, ganhos no Brasil, em obras pias e devotas, como a colocação do sacramento na Igreja Matriz da sua naturalidade e em outras vizinhas que não tinham.
José de Almeida Castelo Branco de Bezerra, senhor da casa de Pereiro, foipoeta apreciado no século XVIII, achando-se algumas das suas poesias dispersas.
Dr. José Maria de Figueiredo, natural desta freguesia, bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, seguindo a Magistratura, foi Juiz de Direito em várias comarcas.
Casou com D. Maria Luísa da Cruz, foi senhor, por compra, da casa de Pereiró nesta freguesia e faleceu em 1926.
Padre Manuel dos Santos Figueiredo, natural desta freguesia, benfeitor do Hospital da Misericórdia desta cidade, cujo retrato se encontra naquela casa de caridade, falecido em 24 de Junho de 1802.
Deu-se nesta freguesia e no lugar das Picas ou Hortão um encontro entre tropas francesas e as guerrilhas portuguesas que se oponham à marcha daquelas em Barcelos.
O general francês Lorges, destacado do Porto para apaziguar e submeter ao domínio daquela nação a província do Minho em Abril de 1809, encontrou algumas terras, como Ponte de Lima e outras, forte resistência, que por fim conseguiu subjugar usando de rigor e represália.
A vila de Barcelos, devido à prudência do seu corregedor Dr. João Nepomuceno Pereira da Fonseca Silva Veloso, natural da Casa da Torre de Moldes, Remelhe, que, abandonado da maior parte dos homens de armas e de todos os meios de resistência e defesa, recebeu os franceses com forçada urbanidade e amizade, foi poupada, nada sofrendo.
Não aconteceu porém o mesmo a algumas freguesias circunvizinhas; as depauperadas guerrilhas tentando opor um simulacro de resistência à marcha dos franceses não o conseguiram, sofrendo em consequência disso mortes, ferimentos dos seus moradores e incêndios de algumas das suas casas, como sucedeu em Perelhal, Gilmonde, Barcelinhos e nesta do Carvalhal.
Pelo registro paroquial se vê que desta freguesia morrerem para cima de seis pessoas nessa ocasião, não sendo porém possível apurar o mais que sucedeu”.


História da Freguesia de Carvalhal retratada por Teotónio da Fonseca em 1948

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