sábado, abril 01, 2006

o defeso do campeonato popular está a terminar...

Aproxima-se mais uma época de futebol popular. Este período de “defeso” deve ter servido como tempo de pausa e reflexão. E todos têm necessidade de reflectir.
A cada ano que passa, e (já) vamos para o 12º, as exigências são cada vez maiores, assim como as responsabilidades, sejam elas individuais ou colectivas.
O campeonato popular tornou-se num “grandioso fenómeno” no concelho de Barcelos, possibilitando que cerca de 1500 atletas pratiquem desporto, neste caso, futebol, ao longo de quase um ano inteiro. Para pôr este número de atletas em actividade estão envolvidos centenas e centenas de dirigentes das associações das freguesias participantes, dando o seu melhor em prol da comunidade que representam. Várias dezenas são os árbitros e árbitros-assistentes, que com o seu indispensável contributo, muitas vezes incompreendidos, pois o árbitro tem a tarefa mais difícil num jogo de futebol: não tem adeptos e, ninguém se lembra, que só não comete erros quem não desempenha a sua função. Verifica-se por vezes que alguns “mal formados”, por tudo e por nada não enjeitam a possibilidade de descarregar as suas frustrações em cima daqueles que têm a difícil missão de arbitrar um jogo de futebol. Sobre os erros dos árbitros no “popular” e para evitar entrar num “discurso redondo” não vale a pena falar muito. Se os árbitros erram no desempenho de funções ao mais alto nível mundial, não vão errar no “popular”? É claro que vão!
Para se ter noção da realidade, não se pode deixar de fazer referência às mais de 50.000 pessoas que no decorrer de cada época se deslocam das suas freguesias para outras, presenciando os jogos das suas equipas e criando, com isso, uma das mais-valias do campeonato popular: o intercâmbio a vários níveis entre as gentes das diversas freguesias do concelho.
À direcção da Associação de Futebol Popular de Barcelos cabe a tarefa e a responsabilidade de fazer os reajustamentos necessários em termos organizativos no intuito de corrigir algumas insuficiências ou eliminar eventuais lacunas. Esse deve ser o seu rumo. Todos temos o dever de tentar aperfeiçoar, essencialmente, quando nos dedicamos a causas públicas. No entanto, por muito que se melhore, também não podemos cair no extremo de exigir a perfeição... A perfeição é uma meta impossível!
Aos dirigentes das associações participantes cabe a tarefa de proporcionarem aos atletas condições condignas de ocupação dos seus tempos livres de forma sadia, sendo para isso necessário muito empenho e trabalho que nunca nos esqueceremos de o enaltecer; mas também a responsabilidade de incutirem no seu grupo “valores e princípios”. Estando nós perante uma competição de cariz “popular”, esta terá, obrigatoriamente, de se nortear pelos valores da verdade desportiva, da transparência e do fair-play. Dizem, e eu não encontro nada para discordar: “um grupo, por norma, espelha sempre o caracter dos seus líderes”.
Ainda que um pouco em surdina, mas nem por isso deixa de ser “voz corrente” daqueles que mais de perto estão ligados ao “meio”, que existem inscrições irregulares de atletas. Pelo que me chega, inscritos como cidadãos residentes na freguesia (...), apenas para tornar a equipa (...) mais forte, quando é do domínio público que estas residências não correspondem à verdade. Todas ou quase todas as semanas, aqui e ali se vai ouvindo falar destes casos, por aqueles que são conhecedores desta realidade em concreto. Isto (infelizmente) acontece devido à falta de responsabilidade de alguns dirigentes desportivos, mas, para que esta situação se efective torna-se necessário: a irresponsabilidade, o desleixo, a falta de princípios, e outras coisas mais que eu por decoro me recuso a escrever, de alguns autarcas que sem a mínima dignidade exercem cargos tão nobres. Todos os atletas para validarem a sua inscrição como residentes na freguesia (...) têm de fazer acompanhar a ficha de inscrição de um “atestado de residência” emitido pela respectiva Junta de Freguesia e/ou da sua certidão de eleitor emitida pelo programa do “STAPE”. Fazendo fé no que se vai ouvindo, vindo de quem é usual designarmos de “mentideros” estamos perante uma cruel realidade! Neste momento, reflectindo nisto, sinto uma certa dificuldade em alinhar ideias. Quanto injusto isto é para todos aqueles autarcas e são muitos, (desta cruel realidade fala-se apenas de um ou outro caso) que muitas vezes contra “ventos e marés” se batem afincadamente por os mais elementares valores de cidadania. Quem incorre neste tipo de comportamento deveria corar de vergonha até à eternidade. Mas não, coram todos aqueles que sentem obrigação de contribuir na construção de um futuro mais risonho para os vindouros. “Os ditos cujos, talvez chafurdando na pequenez do seu mundo”, nem se apercebem de nada. Parece impossível!!! Mas dizem que é assim... Como as palavras não me surgem, tendo por isso dificuldade em encerrar o tema, resta-me, citar aqui um amigo meu, que quando em conversas de café por vezes se fala nestas “habilidades ou em chico-espertices” semelhantes levadas à pratica por alguém, depois de ouvir atentamente a história, imediatamente afirma: “quando for grande, quero ser como eles!!!”.
Como não pode deixar de ser, no contexto do “futebol popular” os atletas são sem margem para dúvidas o “elo mais forte”. É por eles e para eles que muitos trabalham, sacrificando-se vezes sem conta a sua vida a vários níveis, como também, a daqueles que lhes são próximos.
O desempenho dos atletas que jogam no campeonato popular é deveras importante. Compete-lhe ajudar a formar um grupo unido e coeso, fomentando a camaradagem, a disciplina, o respeito por todos os intervenientes no jogo sejam eles directos ou indirectos. Têm imensas responsabilidades, porque neles se reflecte a imagem da freguesia que representam. E, quer queiram quer não, transportam-na, enobrecendo-a ou atirando-a para a lama... A sua atenção é indispensável no sentido de verificar se todos os colegas do grupo caminham no rumo certo. Haverá, talvez, colegas vossos por razões que aqui e agora não interessam, descambam para caminhos perigosos e inadequados. O vosso contributo é decisivo para os fazer regressar ao local de onde nunca deviam ter partido.
Hoje, jogar futebol no campeonato popular durante uma época inteira, não se pode encarar de ânimo leve, como sendo uma brincadeira qualquer ou algo do género. Os jogadores do “popular” sujeitam-se a um desgaste físico tremendo ao longo de quase um ano inteiro, a grande maioria, como também se vai ouvindo (honra seja feita ao G. D. R. de Campo e possivelmente a mais um ou outro atleta, que são excepção), sem ter a mínima consciência se o seu organismo e a sua saúde o permitem. Sem consultar um médico que os examine devidamente para se aquilatarem das suas reais aptidões em termos de prática desportiva.
Já tenho conversado com alguém imensamente preocupado com isto, sei também que este tema não passa ao lado da direcção da Associação de Futebol Popular de Barcelos que me parece dispor de meios logísticos e financeiros limitados..., para por si só resolver a questão. Este não é só um problema do “popular”, é um problema de todas ou quase todas as associações que têm atletas a praticar desporto não federado. Devido à dimensão que atinge, torna-se num problema sério do concelho de Barcelos - digo eu, é claro. Perante tal cenário, não será este um tema para todos reflectirmos?
Dentro de poucos (...) dias entraremos em Campanha Eleitoral para as Autárquicas. Não será este um assunto interessante e pertinente para os políticos da nossa praça discutirem na campanha? Um problema fulcral do desporto no concelho não terá a importância suficiente para deixar para trás: “discussões fúteis, intrigas insuportáveis, guerrilhas inúteis, e por vezes, até, ataques... pessoais indecentes” que desmotivam cada vez mais os cidadãos, levando muitos a incorrerem no erro de não cumprir o seu dever cívico? Esse leque imenso de candidatos, não se preocupará com milhares de atletas inscritos nas associações do concelho praticando as mais diversas modalidades desportivas, a enormissima (estarei a exagerar?) maioria sem qualquer exame médico?
Para manifestar a minha opinião confesso-vos: filhos com condições de jogar no “popular” não tenho, se tivesse, jogariam com certeza. Depois de um médico os considerar aptos para tal. Quanto a mim: o “cabelo... branco”, a cada dia que passa tolhe-me a velocidade não me permitindo sequer ser candidato a “apanha-bolas”, porque até para essa função (e não a considero menor), só a desempenharia com a certeza de que o meu organismo e a minha saúde o permitiam.
O “defeso” do campeonato popular está a terminar... com ele, não se pode esgotar o tempo de reflexão.
Manuel Sousa

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